Depois de mais de sete meses no sudeste asiático, passando por Tailândia, Laos e Vietnã é chegada a hora de conhecer o Camboja.

Como ficaríamos apenas um mês no país, decidimos fazer um trabalho voluntário para ter uma experiência mais real, mais autêntica e para saber mais sobre esse país.

Optamos por uma fazenda de permacultura, que fica no sul do país, perto de Kampot.

O lugar escolhido foi a Fazenda Nakupenda, um projeto lindo, liderado por uma mulher forte e extraordinária, a Synia (foto abaixo) que tivemos o imenso prazer de conhecer e conviver durante essas duas semanas. 

E foi simplesmente espetacular! 

Breve descrição

A Fazenda Nakupenda  é um projeto idealizado por duas irmãs cambojanas pra lá de especiais.

No Camboja muitas mulheres vivem em situação de pobreza e vulnerabilidade. O Camboja é um país muito machista, onde os homens bebem demais, são violentos e escrotos. E as mulheres são trabalhadoras e submissas. Casam cedo, no Camboja não é bem visto se separar, a maioria não tem educação, então elas vivem esse ciclo de violência e trabalho exaustivo.

A Synia trabalhou por muitos anos em um centro que dá apoio a essas mulheres vitimas de violência doméstica e em situação de vulnerabilidade. Ela mesma foi vítima disso, mas conseguiu enfrentar a situação. Por isso, hoje mora na fazenda com sua filha Moka.

Synia logo percebeu que a Nkupenda poderia também funcionar como um refúgio para mulheres que quisessem, assim como ela, recomeçar. 

Fazenda Nakupenda vista de cima.
Synia sempre sorrindo.

Localização

A Nakupenda fica no sul do Camboja, a cerca de 25 km de Kampot e 150 km de Phnom Penh.  

Percurso

Estávamos na capital do Camboja,  Phnom Penh, e fomos de ônibus até Kampot.

Pagamos 7 dólares por um ônibus baratex que levou cerca de 6 horas. 

Já para ir de Kampot até a fazenda pegamos um Tuk Tuk, que é organizado pela própria Nakupenda. O ponto de encontro é embaixo da árvore grande na rótula da cidade. ?

Dividimos o transporte com a Bruna, minha irmã que estava com a gente, e com uma francesa muito querida, a Margot que embarcava no seu primeiro voluntariado! 

?? DICA: A melhor empresa para viajar de ônibus pelo Camboja, chama-se Giant Ibis. Os ônibus são novos e confortáveis e as viagens mais rápidas. Você pode comprar tíckets online e esse mesmo trajeto custa 10 dólares. Descobrimos isso depois. ?

Eu e o Gabi no Tuk Tuk.
Bruna, Margot e as malas no Tuk Tuk.

Primeiras impressões 

Não poderiam ter sido melhores. O lugar é lindo, rodeado de verde e plantações e pés de caju. O casarão da fazenda é enorme, coisa mais linda do mundo.  

A fazenda usa energia solar e água da chuva, ou seja, 100% da energia utilizada vem do sol e toda a água utilizada, inclusive para beber, vem da chuva.

Ela ainda não produz comida suficiente, pois o projeto é novo, mas em breve chegará lá!

Já haviam vários voluntários por lá quando chegamos, e todos estavam fazendo seus trabalhos, mas como sempre acontece, todos vieram nos recepcionar. Nos deram boas vindas e nos ajudaram com as malas.

Percebemos logo de cara que seria uma vida em comunidade. Todos dormem no casarão, compartilham refeições, tarefas e o açude, a parte mais esperada do dia!  

A casa principal sob a linda luz do pôr do sol.

Casa principal da Nakupenda.

Nós numa manhã na Nakupenda.

Estrutura e acomodações

Certamente a Nakupenda foi, a melhor e mais bem preparada das fazendas onde já ficamos. Ficamos impressionados. O casarão é mesmo enorme, e acomoda muita gente. Logo que chegamos éramos 12 voluntários.

No último andar moram as mulheres acolhidas pelo projeto. No andar do meio são os quartos dos voluntários, os banheiros e uma varanda para praticar yoga ou descansar em uma das redes. 

Os quartos são grandes, arejados, com colchão no chão, mosquiteiro, ventilador e móveis para guardar e pendurar roupas. Os banheiros são gigantescos e até espelhos tinham! Coisa rara em fazendas.

Área externa dos quartos.
Ultimo andar.

Quartos da casa principal.

Varanda para relaxar ou praticar yoga.

A parte térrea da casa é toda aberta, com 3 salas fechadas que funcionam como ateliê, quarto e depósito.

Nesse mesmo andar ficam mais dois banheiros , a cozinha e o lugar onde acontecem as refeições. Ali também fica a mesa de ping-pong, o fla-flu e uma mesa com tintas e pedaços de madeira par quem quiser pintar ou inventar alguma coisa. E ainda, em um cantinho tem sofás e redes para se jogar.

Ao redor da casa ainda existem 3 casas de adobe, que servem como quartos privados para os voluntário de longa duração. E mais duas cabanas de madeira, que futuramente serão alugadas.

Gatinhos e cachorros fofos não faltam na Nakupenda. Todos os bichos são extremamente dóceis e amorosos. Os gatos vivem no colo dos voluntários, e os cachorros participam de todas as atividades! ❤️

Primeiro andar com a mesa das pinturas em primeiro plano.

Rotina e horário de trabalho

O lugar é grande e a rotina é bem puxada. O legal é que é bem organizado e sobra tempo para o lazer, ou para fazer nada, o que é bem bom.

As pessoas são separadas por times, de acordo com o número de voluntários da época. Então as tarefas são separadas por horário e por time. Na nossa época eram 3 times de 4 pessoas.

  • 6:30 preparar o café da manhã( 1 time) e regar as plantas (outros times)
  • 7:00 café da manhã coletivo
  • 7:30 as 10:30 trabalho
  • 10:30 preparar o almoço (1 time) – outros dois times folga
  • 12:00 as 15:00 descanso
  • 15:00 as 17:00 trabalho
  • 19:00 jantar e reunião

* cada dia um time se candidatava para fazer o jantar, mas geralmente todos acabavam participando! 

Hora do almoço.

Cortando caules de bananeira para fazer composto.

Intervalo depois do almoço: hora de descanso, leitura ou uma sesta.

Trabalho

As tarefas eram bastante variadas na Nakupenda: 

  • fazer eco bricks com sacolas plásticas e garrafas pet.
  • fazer tijolos de barros para as próximas casas adobe.
  • construir um desidratador
  • refazer os canteiros da horta e plantar
  • regar as plantas da horta e do jardim
  • fazer composto
  • construir um filtro para a água
  • coletar castanhas de caju pela propriedade
  • alimentar galinhas, gatos e cachorros
  • fazer limpeza geral da casa
  • ajudar no design de camisetas e livretos para o projeto
  • cozinhar muito ?

Rodizio de tarefas

É importante dizer que as tarefas variavam ao longo dos dias e eram diferentes no turno da manhã e tarde por exemplo, para que ninguém ficasse entediado fazendo sempre a mesma coisa. Mas também para todos aprenderem sobre tudo.

As tarefas eram sempre decididas na reunião diária após a janta.

Dessa forma, as atividades eram escritas no quadro, e cada voluntário optava pela tarefa que gostaria de desempenhar. Funcionava perfeitamente bem.

Preparando um novo canteiro.

Tirando ervas do canteiro.

Preparando a comida das galinhas.

Housekeeping ou faxina, minha atividade favorita.

Gabriel picando bananeira.

Synia cortando uma bananeira para fazer composto.

Construindo um desidratador.

Preparando o solo para um novo canteiro.

Como eram os nossos dias

Acordávamos cedo, as 6 da matina! E era um verdadeiro prazer!

O despertar

Acordar na Nakupenda, com o sol nascendo na janela era cada dia mais bonito e mais especial. Sem contar no silêncio daquelas manhãs.

Além disso, a cama não era lá tão confortável, e a essa hora o corpo já pedia para levantar.

O café da manhã

Quem estivesse no time do café descia para preparar o café. Outro time regava as plantas e o terceiro time podia dormir mais meia hora. Mas todos acordavam!

O café geralmente consistia em Sticky Rice, amendoim torrado, banana,  mamão, abacaxi e manga. Para beber sempre tinha café e um delicioso chá.

Após o café, cada um lavava seu prato, na área de externa utilizando água em bacias e sabão ecológico de argila feito na própria fazenda. O time da louça lavava as panelas e o restante da louça.

James e Synia no café da manhã.

Lavando a louça.

Nascer do sol na Nakupenda.

Regando as plantas da horta

O trabalho matinal

Após o café cada um, junto com o seu time, começava a trabalhar na tarefa do dia.

Um voluntário sempre ficava de housekeeper, ou seja, fazia a limpeza da área comum, alimentava os gatos, cachorros e galinhas e preparava o almoço. Mas a função mais importante do housekeeper era colocar música pra galera! Sim, música variada e bem alta.

Descanso matinal e banho de açude

As 10h30min soava o gongo, era a hora de parar. A essa hora o sol já estava fritando e uma única coisa passava pela nossa cabeça. Açude!

Trocávamos de roupa e íamos direto tomar banho e fazer máscaras de lamas. O Gabriel passou 10 dias tomando banho só de açude. Assim como muitos voluntários. A ideia era economizar água, pois estávamos na estação seca.

O almoço

Após o açude, quem quisesse podia ajudar o Housekeeper a fazer o almoço, e nós quase sempre ajudávamos. O pessoal era incrível, todos davam idéias e colaboravam de uma forma muito orgânica, sem ninguém mandar. E isso era muito legal.

As refeições eram deliciosas, sempre vegetarianas, com muitos legumes e sticky rice!

Descanso pós almoço

Depois de muitas conversas na mesa, geralmente o pessoal relaxava, alguns se jogavam nas redes, outros nos sofás, alguns dormiam nos quartos, enfim cada um fazia o que quisesse, e todo mundo respeitava o espaço do outro.

O trabalho da tarde

Gongo tocava novamente as 15h30min e era hora de voltar ao trabalho. Mais duas horas. A tarde era mais pesada, pois o sol ainda torrava. Suamos bastante, mas nos divertíamos também.

A Moka, filha da Synia, adorava trabalhar junto conosco e participava de quase todas as tarefas. Uma fofa! Moka tem 3 anos e nos ensinou a arrancar a castanha do caju da fruta. ?

O final do expediente

Novamente, as 17h o gongo sinalizava o fim do trabalho, e nessa hora íamos, novamente, correndo para o açude.

O banho do fim da tarde era ainda mais especial, pois além de simbolizar o fim daquele dia de trabalho, o pôr do sol dali era magnífico.

E assistíamos a esse espetáculo lindo e colorido, todos os dias nadando, rindo com os outros voluntário e fazendo máscaras de argila.  ?

Galera suando no trabalho pesado.

Margot tentando trabalhar.

Banho antes do almoço.

Preparando alguma refeição.

Descanso depois do almoço.

Yoga no tempo livre.

Fazendo os tijolos ecológicos.

Tijolos ecológicos.

Banho do final da tarde.

O jantar

Bem limpinhos, era hora de ajudar com o jantar.

Mesma rotina, mesma comida vegetariana deliciosa, conversas em vários idiomas, sorrisos pra todo o lado. Barriga cheia, era hora da reunião.

Reunião e confraternização

A reunião era rapidinha, e o objetivo era falar sobre o dia que passou, além de definir as tarefas para o dia seguinte.

Após a reunião, rolava um ping-pong, um fla-flu, um jogo de cartas ou qualquer outra coisa divertida. A vida ali era mesmo em comunidade, e raramente alguém se isolava ou não participava de algo junto com todos os outros.

O verdadeiro descanso

Geralmente as 22h já estávamos prontos para dormir, pois trabalhar em fazenda cansa!

Mas esse cansaço é uma das melhores sensações que já experimentamos!! ?

Comida vegetariana delícia.

Ping pong antes de dormir.

Todos juntos para a clássica foto.

Trabalhando juntos.

Paul e Flora  indo embora.

Khmer Food com Sinya

Uma vez por semana a Snya assumia a cozinha: era o dia da culinária Khmer! Um dos mais aguardados da semana. 

Nesses dias ela fazia alguma receita tradicional cambojana.

E o primeiro prato que Synia nos preparou foi o Amok vegetariano. O amok é um prato tradicionalmente feito com carne, legumes, capim limão e leite de coco. E a versão vegetariana da Synia estava sensacional.

Aprendemos também a fazer tofu (o melhor que já comi na vida!) e uma sobremesa de banana com coco e sticky rice maravilhosa! Ela é embalada em uma folha de bananeira e cozida ou assada. Simplesmente deliciosa! 

Synia cozinhando comida típica do Camboja.

Doce de arroz e banana indo pro fogo.

O doce pronto: a banana fica rosa depois de cozida.

Comemos com frutas e amendoim.

Sharing Circle

Todo o sábado a noite acontece o sharing circle. Para isso, acendemos uma fogueira e todos sentam em volta, fazendo um círculo.

Há um espécie de cajado que passa de mão em mão. Apenas que tem o cajado pode falar, os outros apenas escutam. Sem julgamentos.

A pessoa que está com o cajado pode falar sobre qualquer coisa, e ficar o tempo que achar necessário.

Não é fácil se despir e ficar vulnerável assim na frente de tanta gente. E foi uma experiência muito forte. Ouvir alguns dos sentimentos mais profundos das pessoas nos fez pensar e também nos fez sentir mais humanos, mais iguais. Nos ajudou a compreender melhor o outro e a nós mesmos.

Porque de uma forma ou outra compartilhamos daquilo que estamos ouvindo: seja porque sentimos da mesma forma, seja por já ter vivenciado algo semelhante. Foi realmente poderoso.

Dias de folga

Domingo era o dia de folga e basicamente tínhamos três opções: ficar na Fazenda Nakupenda fazendo nada (curtindo ou lendo), dividir um Tuk Tuk e ir para Kampot, ou alugar a scooter da fazenda e conhecer os arredores.

Optamos pela scooter é claro!

Saímos por aí em três desbravando a região. Foi super legal esse dia. A região é linda, visitamos o Secret Lake, descobrimos um café e restaurante delicioso e passamos por vilarejos nos perdendo pelas estradas de chão batido.

Foi divertidíssimo mas voltamos correndo para tomar um banho de açude no final da tarde! 

Restaurante do dia de folga.

Descansando depois do almoço.

Um parágrafo sobre uma mulher incrível

Synia, sem a menor pretenção nos deu gigantescas e valiosas lições de vida. Com seu jeito meigo, delicado e tranquilo, foi aos pouquinhos chegando na camada mais profunda dos nossos corações. 

Mulher simples, forte, corajosa, disposta a transformar o mundo em um lugar melhor, através do amor e do cuidado com a natureza. 

Nos ensinou como fazer tofu e inúmeras receitas Khmer. Nos mostrou que não é com força, voz ou imposição que se consegue as coisas. Mas sim deixando as pessoas livres para tomarem as próprias decisões. E sendo respeitadas por aquilo que são.

Synia fala baixinho o tempo todo, sua voz doce e suave acalma qualquer um. Ela tem a capacidade de deixar todos muito à vontade. Abre as portas da casa e do coração sem querer absolutamente nada em troca. 

Um exemplo de mãe, de mulher e líder. Essa cambojana de 1,50 de altura é gigante! E roubou meu coração. Espero que possamos voltar logo, para dar continuidade e mais quatro mãos para esse projeto tão lindo, inspirador e revolucionário que é a Nakupenda.

Os aprendizados:

  • Aprendi a fazer tofu;
  • a dar sem esperar nada em troca;
  • a sorrir sempre mais ( e nunca é o suficiente pois minha cara de braba me acompanha ainda);
  • a trabalhar com amor;
  • que sempre cabe mais um em qualquer lugar;
  • que o amor é a ferramenta mais poderosa;
  • e que o empoderamento feminino precisa existir em todas as esferas;
  • aprendemos a tomar banho de açude e esquecer do chuveiro;
  • e por duas semanas não usamos sabonete ou shampoo, e sobrevivemos! 

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