Esse é um texto antigo que achei aqui perdido e resolvi publicar. 

Ele é sobre nossas escolhas. Quando podemos fazer escolhas, é claro! 

Vivemos num mundo absolutamente desigual, racista, machista, homofóbico e de destruição da natureza. Minha fala aqui é bem ciente de todos os privilégios que tive, sendo branca, padrão, classe média e por aí vai. 

Gostaria que todos fossem iguais, e é para isso que lutamos. Mas isso é outro assunto.

Então vamos ao texto de hoje:  

Sobre medo, coragem e processos

A decisão e o que a precede

Sentimos muito medo antes de decidir partir. Dúvida é mato. E eu me cagava de medo de tudo. 

Fato é que o incerto, de modo geral,  nos apavora, nos paralisa –  mas eu sempre me senti atraída pelo incerto e sempre busquei um certo grau de desconforto na minha vida.

Além disso, a nossa cabeça sempre inventa um incerto muito pior do que ele será na realidade.

A nossa mente viaja e nos mostra sempre o pior cenário: dificuldades, pessoas más, perigos… tudo pra que a gente não saia do lugar onde está (por pior que ele seja). 

E hoje eu tenho certeza disso, que a nossa mente nos prega peças e faz tudo parecer assustador! 

Contudo, posso dizer com propriedade : fica tranquila porque o primeiro passo é sempre o mais difícil e doloroso.

E te garanto, que depois de tomada a decisão tudo passa.

E surge uma força e uma coragem que a gente nem sabia que tinha.

O alívio pós decisão

Depois que botamos o pé na estrada tudo fluiu e vem fluindo muito naturalmente.

Estamos atentos e abertos a tudo que o universo tem a nos oferecer. E vamos aceitando. E tudo vai acontecendo e se encaixando perfeitamente, é bem bizarro inclusive! 

Nós estamos cada vez mais livres e precisando de cada vez menos para viver. 

Mas é claro que não chegamos nesse estado maravilhoso de leveza da noite pro dia,  foi um processo.

Mas pensando bem, nosso processo até que foi bem rápido.

E o Caminho de Santiago de Compostela, foi um dos maiores responsáveis por isso. 

Coragem X Necessidade

No meu caso – Marina escrevendo aqui – botar o pé na estrada era uma necessidade.

Eu precisaria de coragem era para permanecer onde eu estava e levando a vida que eu tinha.

Sabe aquele sentimento de ir morrendo aos pouquinhos sem ver tudo que o mundo tinha pra mostrar?

Pois era o que eu sentia. 

Trabalhar das 8h as 18h e ver o dia passando através da janela e o tempo escorrendo pelas mãos… Isso era exatamente o que eu sentia.

Ou seja, eu só tinha essa escolha: partir para sobreviver. Ou melhor, partir para viver!! 

E finalmente, ver tudo e comer o mundo! 

Pensando bem, se coragem significa “agir com o coração”, acho que foi isso sim que fizemos. 

Dede que partimos, aprendemos a ouvir o nosso coração. E ele sempre grita quando sabe o que quer. E aí só nos resta obedecer.

Então sim, somos pura coragem!

O famoso menos é mais

E foi então que começamos a perceber que nossos bens (eu tinha um ap e duas bicis) são, muitas vezes, o que nos impede de nos mover. 

Ficamos presos a eles. Presos às nossas casas, aos nossos apartamentos, às nossas coisas, coisas, coisas e mais coisas. 

Atados a uma vida que já não faz mais sentido. À um emprego do qual já nem gostamos mais.

Ficamos, sem perceber, presos a um universo limitado. Que na maioria das vezes nem é nosso.

Nos moldaram para estar aí, vivendo no automático, acumulando, trabalhando mais, comprando mais, negociando com o nosso tempo de vida. E morrendo aos pouquinhos.

Liberte-se das suas coisas!

Comece doando roupas, repasse o que não usa, esvazie armários, abra a mente, fique somente com o necessário.

Correndo na roda do Ramster

Ficamos cegos e anestesiados, funcionando como máquinas, seguindo uma rotina de ilusão que nós mesmos criamos para nos sabotar.

Ou que foi criada para nos iludir, nos prender, nos apagar… continuar aceitando tudo sem abalar as estruturas.

Deixamos de ver a beleza das coisas simples. Precisamos de mais, sempre mais!

Precisamos ser melhores. Ganhar mais. Comprar mais. E obviamente trabalhar ainda mais. 

Então, ficamos eternamente presos, frustrados, infelizes, soterrados nas próprias angustias, infelicidade e limitações que nos  foram impostas. Muitas vezes por nós mesmos. Mas também por outros.

E assim vamos murchando, desistindo, marchando de cabeça baixa rumo ao trabalho, à rotina exaustiva e monótona. 

Dessa forma, vamos nos afastando de nós mesmos e ficando cada vez mais amargurados, infelizes, incapazes, imóveis e completamente desconfortáveis no conforto das nossas próprias escolhas cotidianas. 

 As malditas coisas

Coisas em excesso nos atrapalham. Roubam nossa atenção.  Sugam nossa energia. Tiram nosso foco e tomam nosso tempo. 

E dessa maneira, nos distraímos e esquecemos do que  realmente é importante nessa vida: nós mesmos e as pessoas que a gente ama (de verdade né? não as que “deveríamos” amar).

Precisamos reconquistar as nossas vontades, seguir os nossos desejos, nossos anseios, nossos sonhos. 

Relembrar daquilo que realmente queremos ser e fazer nessa nossa breve existência.

A vida é muito curta, ela passa voando!!  Mas vai que dá tempooooo!!! 

Para e Respira – não pira

E nem todos precisam viajar para se encontrar. Comigo foi assim, mas contigo pode não ser.

Tu precisa encontrar a tua maneira, a tua voz, a tua força.

Pode ser sentado no sofá, fazendo trabalho voluntário, pintando, correndo uma maratona, bordando, meditando, capinando um lote, não importa.

Você precisa dar um jeito de ouvir o seu  coração. 

Então, meu amigo que me lê, eu tenho 3 conselhos pra te dar:

 ♥  Acorda! Ainda dá tempo! 

 ♥ Coragem! Teu coração ainda pulsa! 

 ♥ Viva! Há muita vida fora da bolha frágil de ilusão que você criou para sobreviver!!

E se tu precisar trocar uma idéia, conversar, me questionar, me xingar, ou qualquer outra coisa, me escreve!

Vou adorar te ouvir e trocar uma ídeia.  ♥