Imagine uma Quinta muito grande, bem no meio de um centro urbano, em uma ilha. Agora, imagine um casarão de 1820, lindo e bem conservado em meio a um jardim exuberante, e árvores milenares. Agora, visualize uma plantação de bananeiras verdejantes e extensas áreas de videiras. Consegue imaginar?

Tudo isso e muito mais você vai ver e ler ao longo deste texto. Vivemos durante dois meses fabulosos nesse cenário incrível, que é a Quinta Santa Luzia. Localizada no Funchal: o coração e a capital da Ilha da Madeira. Foi um passeio através tempo. E esperamos  que você sinta isso, e se divirta tanto quanto a gente!

Casa Principal da Quinta Santa Luzia

O percurso 

A única maneira de chegar até a Ilha da Madeira, hoje, é de avião. Nosso vôo partiu de Lisboa e custou 40 euros por pessoa. A viagem dura cerca de 1h40min e conseguimos pousar tranquilamente apesar dos fortes ventos.

Depois disso ficamos sabendo que o aeroporto da Ilha da Madeira é um dos mais perigosos do mundo!surprised Nosso anfitrião, Andrew, foi nos pegar no aeroporto.

Localização

A Ilha da Madeira é uma ilha Portuguesa. Entretanto ela fica mais próxima da costa africana (685 Km) do que de Lisboa (973 Km).

Além disso, está a 520 km da Gran Canaria, e 891 km da Ilha de Santa Maria, a ilha mais próxima do arquipélago dos Açores.

Primeiras Impressões

Nossas primeiras impressões foram uma só: não acredito que vamos poder morar nesse lugar por dois meses inteirinhos!

Quinta de Santa Luzia.
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A Quinta de Santa Luzia

A Quinta de Santa Luzia funciona hoje, como uma guest house. O lugar é extremamente bem cuidado, os casarões são lindos e muito bem conservados, e você tem uma vista incrível do Funchal, a capital da Ilha da Madeira.

A casa principal pode ser utilizada por grandes grupos, para retiros de yoga ou meditação. Já na casa menor, funciona a Quinta das Malvas, uma charmosa guest house: que serve um delicioso café da manhã.

Além das casas, existem lindos e impecáveis jardins, árvores gigantescas, piscina, quadra de tênis, um ateliê de cerâmica e outro de pintura, e muito espaço para caminhadas, bancos para sentar e desfrutar da bela paisagem ouvindo o canto dos pássaros. É um lugar muito especial, e fica no coração do funchal.

Se você quiser visualizar melhor tudo que estou falando acesse o site da Quinta de Santa Luzia.

Estrutura e acomodações

Ficávamos no antigo casarão, que servia, no passado, como cozinha para a casa principal.

Tínhamos um quarto compartilhado com dois beliches e um banheiro. No final das contas ficamos boa parte sozinhos ou dividindo o quarto com o Frederik, um alemão muito querido que virou nosso amigo. Mais tarde fomos visitá-lo em Leipzig, e tivemos uma semana incrível.

Também tínhamos uma cozinha enorme!

Alojamento para voluntários na Quinta Santa Luzia,.
Leia também:

Rotina e horário de trabalho

A rotina de trabalho na Ilha da Madeira era perfeita. Trabalhávamos das 8h às 12h e tínhamos a tarde inteirinha para desbravar a Ilha. Sorte nossa, pois ela é repleta de trilhas, cachoeiras, praias e muitas outras coisas para fazer.

Dica: a Ilha da Madeira é muito rica em atividades e atrações, por isso, aconselhamos no mínimo 10 dias por lá.

Depois do café da manhã nos encontrávamos na oficina da fazenda com o Alberto – nosso “chefe” e encarregado dos assuntos gerais da quinta.

Alberto é uma graça de pessoa. Sensível mas com pinta de durão, bem humorado, trabalhador. Além disso, ele se preocupava muito não só com todos os trabalhadores, mas também com os voluntários da quinta. 

Depois de nos explicar a tarefa do dia dizia, invariavelmente:

“Mas devagar! Devagar. Ninguém tem pressa. E aqui ninguém é escravo! 

Quando der meio dia pára tudo.”

Trabalho

Durante os dois meses na Quinta Santa Luzia executamos inúmeras tarefas. Não existia uma rotina e todo dia era uma missão diferente. Algumas delas:

  • podar árvores, trepadeiras e parreiras;
  • limpar o sótão e poços de água;
  • assoprar as folhas de todo o chão da quinta (com sopradores);
  • cortar grama e limpar o jardim;
  • limpar a quadra de tenis;
  • tirar ervas daninhas dos jardins e canteiros de hortaliças;
  • semear alface, rúcula e hortaliças em geral;
  • colher, limpar e separar alfaces e ervas aromáticas para venda.

Uma coisa inusitada foi que o anfitrião, as vezes me convidava para trabalhar na guest house  e ser remunerada! Não estava contando com isso e foi bem legal.

Sempre trabalhávamos todos juntos: eu, Gabi, Frederick, Miguel (ceramista da quinta), Marcelina (funcionária da quinta). O Alberto era quem dava as ordens e supervisionava, mas as vezes trabalhava junto também. Então o trabalho era sempre uma festa, o Miguel era uma figura, conversava o tempo todo: contando histórias hilárias e curiosidades sobre a Ilha da Madeira. Nos fazia rir muito. Foram ótimos tempos! 

Outra coisa importante: o português falado na ilha da Madeira é muito, mas muito diferente do falado no continente. Pra vocês terem uma idéia: reportagens da Ilha da Madeira são legendadas! É praticamente um outro idioma.

O pessoal da quinta era todo Madeirense, então só de tentar se entender já era uma diversão à parte!

Alimentação

Foi bastante diferente das nossas experiências anteriores, pois não tínhamos muito contato com o dono da quinta, e éramos responsáveis por nossa própria comida.

O esquema aqui era fazer uma lista semanal de tudo que gostaríamos de ter para cozinhar. E toda a semana chegava um sacolão com o nosso pedido. Podíamos pedir absolutamente tudo que quiséssemos. Era maravilhoso! 

Tínhamos uma cozinha imensa só para nós. Logo, cozinhar na madeira foi um dos nossos passatempos prediletos.

Além do mais, podíamos colher saladas e ervas frescas diretamente das hortinhas da quinta, e isso era um verdadeiro prazer. Caminhar pela quinta escolhendo o que colher me deixada num estado de felicidade difícil de ser explicado. A tal da simplicidade da vida!

Aprendizados

Nossa experiência na Ilha da Madeira foi um pouco diferente de todas as outras. 

Sempre pesquisamos anteriormente quantas horas de trabalho serão, qual o tipo de comida, e tudo mais. Entretanto, dessa vez chegamos sem saber absolutamente nada. Estávamos tão loucos para conhecer a Madeira que negligenciamos os detalhes dessa vez!tongue-out

Em consequência, o que fizemos foi mais um trabalho do que um work exchange. Digo isso porque não rolou muita troca com o dono da propriedade. Ou seja, apenas fazíamos nossas tarefas, cumprindo o horário, para depois ir curtir a ilha.

Geralmente passamos mais tempo com os anfitriões, e temos um convívio próximo e enriquecedor: de muita troca e conversas. Apesar dessa falta de convívio, a experiência na Ilha da Madeira foi muito legal também. De mais a mais,  tivemos outros pontos positivos.

Ou seja, não tivemos novos aprendizados sobre a terra, ou sobre bananeiras e uvas, que tinha aos montes por lá, por exemplo.  

Entretanto, adoramos a convivência com os funcionários e tivemos muito tempo livre.

Se quiser saber um pouco mais sobre outras experiências de work exchange, e entender melhor o que estamos falando, leia esses artigos:

Nossa opinião sincera

O que sentimos desde o início é que a Quinta precisava de mais funcionários, ao invés de voluntários. Ainda assim, foi uma experiência produtiva. E passar dois meses nessa ilha foi mágico. Além disso, Esses dias foram um sonho real, tipo sonhar acordado, sabe?

Além do mais, a fazenda era deslumbrante. E a gente se sentia dentro de um filme o tempo todo, de tão lindo e cenográfico que era tudo a nossa volta. Só faltou o figurino de época e os vestidos cheios de babados e saias balofas!

Ademais, o ponto mais positivo de todos : esse foi o lugar onde tivemos o menor tempo de trabalho por dia – 3h30min. Ou seja, tivemos muito tempo para aproveitar o visual incrível da “Pérola do Atlântico”.

Ponta de São Lourenço.

Curiosidades

Aprendemos algumas palavras em Madeirense:

  • chuchu = pimpinela
  • batata = semilha
  • á pata = ir a pé
  • bicha = fila
  • bicharada = grupo numeroso de pessoas
  • cachimónia = cérebro
  • canalha = conjunto de crianças
  • chibarro = marido enganado
  • coral = cerveja
  • dar o canêlo = morrer
  • dar no porco = ter insucesso
  • estepor =pessoa  de má índole “Seu estepor!
  • ilha da minhoca = cemitério
  • ir cascar batatas = maneira de mandar alguém embora
  • lambeca – gelados (sorvete) de máquina
  • morrer com os pés amarelos = morrer solteira

E por aí vai…

“Idiomas” da Madeira

Essa variação fonética da Ilha da Madeira – não só entre ela e o continente, mas inclusive dentro da própria ilha – se deve ao relevo acidentado. Graças a isso, e devido às sinuosas vias de comunicação, durante séculos houve um significativo isolamento geográfico entre as várias localidades existentes por lá, e com o isolamento novas formas de comunicação surgiram em cada localidade.  Interessante não?!

E o mais curioso, na nossa opinião, é que isso ocorre em uma ilha relativamente pequena: suas dimensões são 40 km de comprimento por 20 km de largura. Incrível!!

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